Quando contei ao meu pai que queria cursar publicidade, achei que ele ficaria aliviado por eu finalmente ter escolhido um curso. Ao invés disso, recebi uma leva de perguntas sobre o que eu realmente gostaria de fazer (não prestar Fuvest, talvez?) e a conversa terminou com um “você já ouviu falar de relações públicas?”.
E foi assim que escapei do curso de publicidade e propaganda. Tive várias aulas em comum com os alunos dele (principalmente as mais básicas de comunicação e linguagem), mas relações públicas foi se provando mais “minha cara” ao longo dos semestres. Agora, com um pé na porta de saída da universidade, resolvi pegar uma matéria de publicidade como optativa só para ver o que minha graduação poderia teria sido. E aprendi muito!
Entretanto, agora que o semestre terminou, não consigo mais ignorar que se tornou impossível viver sem ser atingido por múltiplas propagandas e anúncios em todos os momentos. Tudo o que encontro e tudo o que faço é acompanhado por uma tentativa de me vender alguma coisa. Acho que vejo mais anúncios do que minha própria mãe.
Para ver qual metrô devo pegar, preciso passar por diversas ofertas de plataformas de compras. Se quero registrar que menstruei tanto que talvez precise de uma transfusão de sangue, me oferecem a versão paga do aplicativo (com funções que antes eram de graça). Os pontos de ônibus têm telas gigantes dedicadas a anúncios. Até uma pesquisa no Google me mostra uma vitrine não solicitada antes de um resultado. Entre os stories de uma amiga e outra, vejo dezenas de lojas que o Instagram escolheu especialmente para mim.
Isso para não entrar nos famosos naming rights do metrô paulistano. Próxima estação (next station): Paulista - Pernambucanas! Ou Saúde - Ultrafarma. Também tem Morumbi - Claro. Que tal Penha - Lojas Besni? Ah, Carrão - Assai Atacadista… E muito mais! Se cansei de pegar metrô, preciso tomar cuidado. Não posso mais passar pelo Largo da Batata. Vai que ele realmente vira o Largo da Batata Ruffles.

A reflexão que faço é: existe “espaço publicitário” hoje em dia? Para as empresas, com certeza, já que o termo não é novo. Mas me refiro ao ponto de vista do consumidor. Por aqui, todos os espaços parecem ser publicitários, deixando a classificação obsoleta. Qualquer lugar, físico ou virtual, virou oportunidade para publicidade, da interface dos aplicativos no meu celular aos nomes das estações de metrô que utilizo. Até ambientes mais “privados” são terrenos férteis para anúncios, ou vocês esqueceram do Burger King mandando pix de 1 centavo para os clientes para divulgar promoção de frango?

Inovação não é mais ter estratégia e criatividade na mensagem. Agora, as empresas também inovam nos meios pelos quais essas mensagens são passadas, e onde você menos esperar… BOOM! Anúncio (mas o nome vai ser “ação de marketing”)! Cartazes, outdoors e comerciais de TV não são mais o suficiente, pelo visto. As marcas começam a se inserir em qualquer espacinho que encontram, mesmo sem tentar vender o produto explicitamente — tipo o Duolingo entrando na bolha humorística do Twitter. E foco no “explicitamente”, pois a marca Duolingo (a marca, não a coruja) vai ficar na sua cabeça depois da piada.
Antes de encerrar, deixo uma menção honrosa aos famosos product placements em filmes e séries. Eu imagino que esses anúncios tenham sido mais sutis em algum passado remoto, mas a atualidade nos mostra propagandas de carro enfiadas no meio do filme, registradas para sempre (já que ainda não começaram a fazer pausas para comerciais no cinema, até onde eu saiba).
Um exemplo perfeito de marcas dominando as mídias é o filme WiFi Ralph. Com uma pesquisa rápida, encontrei uma lista com cinquenta referências a marcas e produções mostradas na animação (20 marcas e 30 produções da Disney). Vale mencionar que a lista só cobre o trailer, viu?
Tenho medo de um dia abrir minha geladeira e ela começar a berrar QUER SABER COMO ECONOMIZAR NO QUEIJO E NO PRESUNTO? ACESSE AGORA…
Queria pode desabilitar qualquer publicidade de aparecer no meu celular, odeio que virou normal publicidades em qualquer site independente do conteúdo sempre perco minha atenção
a Disney Plus agora veio com a palhaçada de intervalo comercial no meio do filme sendo que eu já pago a plataforma, agora precisa pagar ainda mais para tirar isso. Onde vamos parar?